MITOFADO


Desisto de correr para encontrar-me, neste poente
igual á sombra, quão fragrância de almíscar
e em beber em mim também como nascente,
desnudo-me Grécia e visto-me em mitismo de Iskar...

Desço ao meu Hipocrene e sacio esta carestia,
e da Arcádia vou a China, como sétimo lá sou santo,
dos comparecidos ao banquete e tiveram amnistia
e sou o mais sensível, de valentia e de encanto...

Se vinda do Neptuno exibo minha deidade, assola-me
um afligir ininteligível, e perco a divindade e os modos
no etéreo das encarnações a paridade cósmica, pose

na alegoria do Zodíaco e a Justiça isola-me
de entre a Massa o Inanimado, e sustento a Todos
equilibrando o peso dos Onze e temporalizo doze.
Índia Libriana
(Junho2007)
À SILHUETA


Afundo-me no airoso vazio da folha e tormentos
são palavras que cruzam velozes este caminho
e descaminho é o lícito atropelo dos momentos,
faróis cegando sonhos, na vilania do cadinho

O vazio inunda-me e há sonhos caídos de mim
na concha a mudez do mar e do navegante
num movimento de rotação sem fim,
aplaude no sono o espectador alucinante

Em todo o fado, a sátira desdita e combalida
há viver que se vive para além desta tela, e é real,
quão é este crescer da solidão da minha alma,

Que inflama e proclama a luz que se desvanece pálida
o argumentista recria-a e dá-lhe a tonalidade ideal
e nela revela-se a ironia castrando a minha calma...

Índia Libriana
(Agosto2007)
AO TEMPO QUE FOSTE


És de um tempo que foi e que já não dói
em que eram tuas minhas ruas
por onde passava e passeava
copioso teu olhar, uma dor de amar;

Eras caloroso espaço, regaço
de maciez sedosa, tez preciosa
cheirando a flores, dando calores
aos sentidos e ruídos contidos;

És da Imagem que foste, Cópia inópia
poesia sem sentimento, o pejo do beijo
que habitou o meu intenso silêncio
de todas as horas em que te amava nas demoras;

És saudade ausente, toque sem choque
do exaurido perfume sem ciúme,
da Ideia do inteligível no sensível
do tempo que foste, passado sem enfado;

Eras do tempo que eras e foram eras
de muitas promessas, louças essas já partidas
hoje nem saudades amenas, fóssil apenas
de tão remoto na minha memória sem glória.

IMPERADOR


Parece que alguém chorou nos teus olhos
e deixou neles um eterno efeito molhado,
um excesso de silêncio espesso e talhado
e nem tens neles capim verde aos molhos...

Parece que teus lábios foram sugados
com ímpeto devorador e fogoso
e ficou neles um rubor presunçoso
que sub saem deles brados calados...

Imperador foste também Augustus
pelejando e transportando o belo
do burgo para o proscénio das pistas...

E se retratos pudesses tirar os nus
dos teus olhos e teus lábios, o anelo
daria para expo e poses com outras artistas.

(Setembro2007)
LAMENTOS

Parto sim, do jovem aconchego desse olhar
que não retocará a sua fantasia primeira
e só há bilhete para Lugar Nenhum a cobrar
nesta Estação ubi cheguei tarde à bilheteira...

Parto sim – de tudo – e parto suas promessas
abandono o tango e volto ao crepúsculo da solidão
e fragmento noites e vicio madrugadas travessas,
no pranto do fadista há lamentos sentidos em vão...

Em meu retorno ao calabouço do frio espectro
há portas hipócritas abertas a festejar
abanando convites para entrar e chorar na ruela

Há lágrimas de reencontro e desencontro
e há queixumes de paredes a atormentar
com boas vindas cantadas a solo e a capela
Índia Libriana
(Maio2007)

MULHERES QUE EU AMO

ABRIGO
(à Marlene Lima)

Vim para rir em soluços no teu regaço à medida
Quero tuas mãos pétalas de rosa e talhado espinho,
espero neste repouso acalentar minha avenida
Em teu olhar um ósculo, um abraço e um carinho...

Trago-te a densidade de uma alma carente
ampla de carestia desde Caranguejo a Leão
e o transbordar-me quase corpo cadente,
confio-te tudo, enfim meu coração na tua mão...

Sei que não me chamarão desviada por este desejo,
por este querer-te mar, por que por quem almejo
é macho e puro tacho que me esvai...

Nem de ti, haverá conjecturas ora que és plenitude
de donzela e a perenidade em ti, e de teu seio infinitude
já é causa nascida, ajuizarás o que na alma me vai...
Índia Libriana
(09Agosto2007)
NÓS E O TEMPO

São Pedro e o tempo me vigiam
e tentam desvendar a diferença no meu olhar
Inquieto com o meu estado, São Pedro
me oferece seu chão para eu apoiar
meu pensamento em ti,

o tempo pára só para nós,
de tão parado que está, consigo tocá-lo
e roubo-lhe um naco para eternizar
este sentimento que me entranha e
entrelaça nas veias e inqueta minh’alma

Queria-te aqui para nos sentirmos únicos
Onde só o tempo tem tempo
E o resto... somos, somente nós
Nós e o tempo…

Índia libriana
(27Junho09)

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VISITANDO OLHARES

Meu amor, quero a tua máxima compreensão
O que vou dizer é para guardares no coração
Não me julgues nem me recrimines,
pois só quero evadir-me, se é que me entendes

Vou mundo fora, visitar outras paragens
Estarei aqui, ausente, a tocar novas aragens
seguirei nas calmas ondas do pensamento
pois não te deixaria em tormento

Quero encontrar com o olhar pleno de ternura
de uma mãe embalando o seu filho com candura
envolvendo-o com enorme manto de felicidade
afastando dele toda a casta de maldade

Encontrarei com o olhar dum poeta numa praia
pensando na amada que lhe fugiu da raia
sofrendo porque ela não sabe o quanto ele sofre
e ter que esconder essa dor no sagrado cofre

E encontrarei também o mistério num olhar
procurando incessante, o meu para desvendar
fitarei e desviarei por vezes, lançando-o longe
voltando de seguida com a leveza de um monge

Se encontrar com um olhar frio
de um gelado coração, não terei calafrio
pois emano do meu corpo e que me faz suar
o toque quente e intenso do teu olhar

Vou estar um instante a contemplar
o equilíbrio do éden fresco de um olhar
de um casal namorando sem se tocarem
e no toque... de olhares, seus corpos incendiarem

Deter-me-ei neste concerto de olhares
mas ouvirei a prece dos teus cantares
me chamando de volta para o meu ninho
tomarei o mesmo veículo e mesmo caminho

Antes, guardarei tudo isso para te presentear
quando eu voltar, quero encontrar teu olhar
como um carinhoso regaço repleto flores.
toma-me de novo pois apenas estive visitando olhares!
Índia Libriana

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AO TEMPO QUE FOSTE

És de um tempo que foi e que já não dói
em que eram tuas minhas ruas
por onde passava e passeava
copioso teu olhar, uma dor de amar;

Eras caloroso espaço, regaço
de maciez sedosa, tez preciosa
cheirando a flores, dando calores
aos sentidos e ruídos contidos;

És da Imagem que foste, Cópia inópia
poesia sem sentimento, o pejo do beijo
que habitou o meu intenso silêncio
de todas as horas em que te amava nas demoras;

És saudade ausente, toque sem choque
do exaurido perfume sem ciúme,
da Ideia do inteligível no sensível
do tempo que foste, passado sem enfado;

Eras do tempo que eras e foram eras
de muitas promessas, louças essas já partidas
hoje nem saudades amenas, fóssil apenas
de tão remoto na minha memória sem glória.


Índia Libriana
(O Eclipse lunar de 03 de Março de 2007 exactamente como a vi)

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LUA CHEIA DE ECLIPSE
(Eclipse total da Lua - 03Mar2007 - Mindelo)

Estou aqui sozinha, ó irmã Lua
que suspensa me apareces tão imponente
embora estejas em cima, não sou subalterna tua
deixa-me quieta no meu canto, impotente

E me apareces assim, tão linda, pose de madame
e eu redonda de desejo, em calhau transformando
Porque vens assim, tão altiva? Vá! Responda-me!
Não me ignores, estou te implorando!

Chegas tão brilhante, que pões a descoberto
a vacuidade do meu pobre e solitário coração...
É tão desesperador sentir-te aqui tão perto.
Rendo-me a tua majestosa aparição!

Mas não te pedi isso, Lua dos encantados
me deixas assim, vermelha de ciúme
tendo ao pé dos teus raios, os apaixonados
exalando o característico perfume

Vai ser linda e brilhante,
redonda e altiva, pedindo versos,
suspensa, tentadora e cintilante
assim, no quinto dos “universos”!

Mas eu vingarei, verás! Terás resposta
já já mandarei esta angústia embora
quando hoje mesmo fores sobreposta
e tornares pequena, como eu me sinto agora!

Aí quero ver, se brilhas como cheia d’outrora
quero ver-te vermelha... de raiva, de ódio
e quero ver-te a viver a repassar em uma hora
as tuas quatro fases. É a natureza Lua, que remédio!

Sobre mim, ó Lua, só tu sabes
mas a ti, meio mundo te vê
embora eu esteja disfarçada percebes
que estou rendida... á tua mercê

E quando linda, e brilhante
redonda e altiva reapareceres
suspensa, tentadora e cintilante
assim, e mais cheia banhar me quiseres

Eu vou estar aqui peito aberto te esperando
deste lado do nosso querido universo
onde estranhamente continuamos nos amando
e existindo, irmã Lua, neste mundo adverso

Índia Libriana